Fictionary Players

É um colectivo formado em 2002, que desenvolve práticas no âmbito da Performance, Artes Plásticas e Arte Multimédia, composto pelos artistas: Alexandre A. R. Costa, Jorge Fernando dos Santos e Miguel Seabra. Cada um desenvolve individualmente actividades, em áreas como, criação artística, direcção e curadoria em arte contemporânea ou docência artística no ensino superior

Monday, July 28, 2008

THE FICTIONARY PLAYERS @ KALDARTE.SPAIN


Do input ao output ao input ao output…e outras adopções e vómitos perceptivos.
por Alexandre A.R. Costa, Julho de 2008.


"Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!" "Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!" do colectivo de artistas, The Fictionary Players (Alexandre A.R. Costa, Jorge Fernando dos Santos e Miguel Seabra), não é uma performance, não é representação, não é uma "colagem" cómica, não é uma instalação, não é uma composição formada por elementos burlescos retirados das imagens produzidas em "Le Déjeuner sur l'Herbe" de Édouard Manet, não é uma apropriação, não é uma cenografia, não é uma interpretação, não é uma recriação de uma obra já existente, não é uma adaptação de uma obra original a um novo contexto, não é uma obra com uma apresentação mais qualquer coisa, não é! "Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!", É! Esta reflexão pela negação de qualquer "rotulação" sobre a prática artística a desenvolver, para em conclusão se identificar numa afirmação categórica, reclama uma razão filosófica profunda. Em "Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!", a obra não é, e no entanto, continua a ser. Será sempre a mesma obra "Le Déjeuner sur l'Herbe" de Édouard Manet. Quanto a essa negação, não a deveremos entender como possibilidade de coisa cínica ou melancólica como nos alerta Perniola, mas sim, (e a partir do mesmo autor) entende-la como uma procura pelo essencial, e esse, num sentido o mais encriptado possível. A prática artística como coisa que se refugia nesse essencial, nesse lugar - antítese à diversão ou à dispersão do sentido atento, conscientemente activo, face a um real que se estende a um enquadramento de globalidade e de densidades híbridas possíveis para essa prática no momento actual. Lembrando que o resultado do trabalho foi pensado para o espaço exterior, evoca-se aqui um estado crítico sobre sistemas fechados com referências, não ao sistema institucional de difusão da arte, mas sim a determinadas lógicas museológicas ou mercantilistas da arte. Opção evidente é a apropriação da imagem de Le Déjeuner sur l'Herbe" de Édouard Manet, hoje incorporada no Museu, e o processo de manipulação sobre a imagem com intenções da sua utilização "mercantil" como meio de expressão ironicamente crítico e exercício de função para uma clara retro-alimentação do sistema (processo autonomizado pelos The Fictionary Players a partir da utilização dos fundos de produção de obras do próprio evento). Uma "barraca" com "Merchandising" numa festa pública no centro de Caldas de Reis onde se festeja e se bebe o vinho da região, o colectivo The Fictionary Players, propõe, a partir da imagem de Le Déjeuner sur l'Herbe" uma abordagem de desconstrução em infindas possibilidades de reconstrução (fragmentos) da imagem da obra.
Num segundo momento surge-nos o conceito de "interno", tendo em conta que aqui o que se apresenta se refere à própria afirmação do sistema da arte, e de quem a exerce (esse, acreditamos, num plano interior e sob uma perspectiva de características ocultas). O espectador pode aqui fruir junto ao rio, de uma leitura simultânea de textos de Perniola, Savater, Guattari e Deleuze. Uma leitura espessa e paradoxalmente serena (uma forte massa sonora sussurrada). Os três artistas exercem esta acção encontrando-se deitados sob um manto branco que prolonga ao interior do rio, banhando-se aí e colocando-se numa situação de apodrecimento da sua matéria. Talvez essa afirmação "sussurrada" que se busca para a arte sempre lá tenha estado, na própria interjeição da mesma. Neste caso estará em "Le Déjeuner sur l'Herbe" de Édouard Manet? Esta confirmação será sempre ficcional na abordagem deste colectivo. "Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!" recai no acto complexo de abordar inputs do real através de ícones, signos, símbolos, sinais... imagens, como aqui a que se encontra em evidência, para apresentar estes dados em contexto dúbio de sentido informativo e sob uma metodologia onde se desterritorializa o Museu e onde um "processo-projecto" se vai alicerçando e alimentando a partir de uma plataforma de interacções relacionais e em todo o contexto de intervenção. Será esta dinâmica a própria obra? Esta confirmação será sempre ficcional na abordagem deste colectivo. E isto acontece tanto na primeira fase do projecto aqui apresentado como no segundo, sendo precisamente a partir desses "fragmentos", dessa hipotética im-possibilidade de comunicabilidade, que essa percepção sobre o real adopta na sua essência mais vinculativa com o imaginário (filosófico ou com a ficção da própria questão) uma outra perspectiva em articulação com o real e as suas probabilidades particulares de "lugar" para a arte. Esse "lugar", esse espaço ficcional passará por um entendimento que este trabalho deterá em consonância com a flecha do tempo e pelo conceito de decomposição a este referente. Este qualificará a própria aproximação sobre o real num entendimento da arte e da sua circunstância de inexorável desagregação. "Le Menu Parodie: Pic-nic-paródico-não-é!" é toda essa abordagem complexa, na certeza da irreversibilidade ser um ponto em comum para todos os seres vivos e tornar as coisas simples na sua essência: a vida e a morte. A ficção fará do tempo o que quiser, e esse estado irreversível poderá nunca existir... A decisão e organização desta dinâmica será da inteira responsabilidade dos artistas Alexandre, Jorge e Miguel, num "dejeuner-sur-herbe", sempre igual a si mesmo.